Jovens e cirurgia plástica: cresce número de procedimentos
“Faz parte do processo de consumo poder publicizar que se fez o procedimento – é um investimento e que se quer chegar ao resultado”, completa. Ao observar os relatos de quem fez a cirurgia nos grupos de Facebook, percebem-se as duas realidades. O medo dos riscos da cirurgia não é um tema recorrente nos grupos de Facebook voltados ao assunto. Uma participante perguntou às outras sobre como lidar com os receios e ter coragem para realizar o procedimento.
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“Para mim, a mulher precisava ter peitos; eu achava que era algo que eu tinha que seguir. Logo após a cirurgia, ela desabafou em um dos grupos do Facebook sobre o resultado, devido à cicatriz. Pouco tempo depois, mudou de opinião e passou a gostar dos resultados. “Não tive problemas na recuperação, apenas uma queloide no umbigo e uma cicatriz hipertrófica na barriga”, conta.
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“Eu coloquei um biquíni e fui me olhar no espelho; quando tirei uma foto, falei ‘cara, esse é o resultado que eu estava esperando’”, conta, lembrando que precisará usar sutiã de sustentação cirúrgico para o resto da vida. Em uma sociedade capitalista voltada para o consumo, a “plena realização de si é a capacidade de consumir”, aponta Fabíola. Ao moldar o corpo da forma desejada – e na hora desejada –, o corpo também se torna uma espécie de produto a ser publicizado. Ocorre, como explica Nísia, a construção de um personagem apresentado nessas redes. Esse caráter de aprimoramento e investimento são aspectos importantes para entender esse cenário”, reflete Fabíola.
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“É fundamental saber contraindicar uma cirurgia quando os riscos suplantam os benefícios”, afirma a cirurgiã. Em um dos relatos, a paciente afirma que chegou a se arrepender da cirurgia porque o médico não a havia preparado para a cicatriz que ficaria em sua barriga. Fabíola avalia que, em alguns casos, “se [os pacientes] tivessem tido uma conversa mais esclarecedora com o médico ou lido matérias que valorizem a diversidade humana e corporal, a cirurgia poderia ter sido evitada”. Cirurgia plástica não é brincadeira, portanto é importante que os pais estejam cientes e apoiem a vontade do adolescente. E principalmente que haja a indicação do cirurgião plástico após uma avaliação presencial. Independentemente da razão ao optar por um procedimento estético, o consentimento dos pais e o envolvimento da família é necessário.
Por vezes, esta equiparação pode ser mais complicada com jovens, pois muitos se inspiram em artistas e celebridades sem se dar conta do seu próprio tipo físico. Porém, a mais procurada pelos adolescentes com mais de 70 mil procedimentos, apenas em 2017, é a rinoplastia, que corrige um incômodo no nariz. O implante de silicone dessa vez fica em segundo lugar com pacientes até os 18 anos.
Isso porque eles costumam ser impulsivos e como estão sempre cercados de padrões midiáticos de beleza, podem ser expectativas fantasiosas. O difícil processo de recuperação pós-cirúrgico, que inclui meses sem poder fazer nenhum tipo de esforço, só ficou claro para a estudante após o procedimento. E o resultado tão esperado veio somente após um ano inteiro de muito cuidado pós-operatório.
Na hora de escolher um “novo nariz”, comenta que sentiu medo de que ele não combinasse com o restante do rosto. No processo, a médica fotografa a paciente de vários ângulos e, em um aplicativo de edição de imagem, simula o resultado. Paula e a médica optaram apenas por retirar o “calombo” que a incomodava, e não afinar o nariz nem deixá-lo arrebitado, modelo comum após cirurgias plásticas. “Tínhamos a mesma visão sobre o que combinaria melhor para o meu rosto”, afirma a estudante. Os dados apresentados tratam apenas das cirurgias estéticas, mas há dois tipos de cirurgias plásticas, a estética e a reparadora.
O fato é que a distorção do corpo ideal, massificada pelos meios de comunicação, principalmente as redes sociais, fez com que a cirurgia plástica se tornasse uma solução e um objetivo a ser alcançado. Uma fase cheia de incertezas, dúvidas e muitas mudanças, na adolescência diversas alterações acontecem. Habituados a era de rede e cercados por filtros de beleza, estima-se que esse ambiente ajudou a impulsionar procedimentos estéticos, tanto que plataformas começaram a banir seu uso. Aos 18 anos, a estudante de direito Alicia Keyt realizou sua primeira cirurgia plástica. Após fazer um acordo com a mãe, trocou a oportunidade de ganhar o primeiro carro por implantes de silicone. Ela conta que o desejo de mudar apareceu ao acreditar que seu corpo estava fora do padrão de feminilidade.
Como há mudanças corporais nessa fase, o mais indicado é, ao decidir fazer uma cirurgia, procurar um profissional adequado. Em uma simples pesquisa, é possível verificar o histórico do médico e a reputação da clínica onde se fará o procedimento”, reforça Korn. O estudo alerta justamente para essa questão dos adolescentes e jovens, que estão em um processo de neurodesenvolvimento relacionado a fazer comparações de si mesmo com outros, criando problemas de humor e aumento da insatisfação corporal. Nas redes sociais, fotos de antes e depois das cirurgias plásticas, além de vídeos em formato de diário das cirurgias, tornaram-se comuns. O relato do procedimento de lipoaspiração e silicone da influencer Virgínia Fonseca, que conta com 11,3 milhões de inscritos em seu canal do YouTube e 41,1 milhões seguidores no Instagram, tem 5 milhões de visualizações.
Diz que a insatisfação com a própria imagem vem da infelicidade causada por “dificuldades em se sentir capaz ou insuficiente para lidar com o mundo, a sociedade e a realidade de uma forma geral”. “Ocorre uma busca por uma perfeição que não é atingida, porque não é uma perfeição real”, comenta Nísia. O padrão por um corpo perfeito, a busca por ele e, inclusive, a explicação da cirurgia estética passam por uma não aceitação de si e do corpo. Fabíola traz um complemento, “como se produz um processo de identificação satisfatória quando tem uma imagem de si tão alterada?
Há uma relação documentada entre o aumento de selfies e os pedidos de rinoplastia – ou cirurgia para alterar a aparência do nariz – principalmente entre os mais jovens. Assim como a mentoplastia, já que esses retratos costumam alterar a aparência do nariz e do queixo. O motor para o desejo de mudar tão precocemente traços do semblante ou do corpo tem conexão direta com a abdominoplastia baixa autoestima, que atormenta 25% dessa jovem população, como aponta a pesquisa. Numa fase de formação de valores e consolidação da personalidade, é esperado que inseguranças se façam presentes. O que chama atenção aí são os desdobramentos desse sentimento, que tem causado tanta insatisfação em relação à própria imagem quando se dá os primeiros passos na vida adulta.
Por isso, ao optar por realizar uma cirurgia plástica, é importante que o jovem converse com o médico sobre as suas expectativas e sobre os resultados possíveis de serem alcançados. O jovem, ao se comprometer com um procedimento desse porte, deve ter em mente que toda cirurgia envolve riscos e demanda cuidados específicos. Por isso, deve estar fisicamente saudável e ter hábitos de vida que não prejudiquem o processo de cicatrização. Além disso, é preciso paciência para que os resultados se tornem visíveis. A adaptação do corpo leva tempo e exige redução das atividades por período determinado pelo profissional cirurgião. Acostumados à rapidez do mundo, é fundamental que os jovens tenham consciência do prazo necessário para recuperação.
A pedagoga Carla Fonseca, de 41 anos, tinha o sonho de operar as mamas. Mãe de quatro filhos, ela conta que sempre cuidou de si e de sua beleza e, mesmo se exercitando rotineiramente, não conseguia ficar satisfeita com alguns detalhes do corpo. “Meu sonho era o silicone, mas ao ir ao médico, ele propôs a abdominoplastia”. Paula não se lembra muito da recuperação da cirurgia, apenas que precisava tomar diversos remédios. Na preparação para a procedimento, relatou que a médica lhe explicou todo o processo, os riscos da cirurgia e os cuidados pré e pós-operatórios. Kacie, de 29 anos, é uma das pacientes de procedimentos estéticos que quer parecer mais com as selfies que obtém com o uso de filtros.
Com distorções irreais de características faciais, as “selfies” causam um efeito que pode gerar um aumento nos pedidos de cirurgia plástica desnecessárias. É o que mostra um estudo recente publicado na Plastic & Reconstructive Surgery. A antropóloga explica que faz parte mostrar que fez cirurgia, que tem poder de consumo, que pode pagar pela cirurgia, por todo o pacote de bens que conseguiu consumir.
